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Ecologia de Paisagens
O que é?
A ecologia de paisagens é uma importante dimensão dos atributos ambientais que são essenciais para manter a saúde e a biodiversidade de um ecossistema, e se refere à dinâmica dos padrões desse ecossistema em termos de espaço. Também está relacionada aos padrões, a nível de população e comunidade, e como estes influenciam o movimento dos organismos e o fluxo de energia em toda a paisagem.
A definição aqui usada de “paisagem” é a de um espaço que contenha elementos associados à estrutura da vegetação, tipo de solo ou qualquer outro atributo nos quais os organismos possam reagir de forma diferente às inúmeras partes integrantes da biosfera. A estrutura da paisagem pode se alterar através de processos naturais, sejam eles biológicos, como por exemplo lebres cavando grandes corredores para servirem como toca; ou geológicos, como por exemplo deslizamentos de terra e terremotos.
A heterogeneidade da paisagem existe a partir de um observador, dentro de uma determinada escala, podendo variar de milímetros a milhares de quilômetros e sendo identificada através da perspectiva dos olhos do homem e da perspectiva de outras espécies.
A maneira como as espécies enxergam as paisagens, ou “a escala de percepção” se refere à escala espacial e temporal na qual uma espécie percebe a paisagem, sendo que a partir desta percepção é moldada a sua forma de interação. Esta interação varia de acordo com sua capacidade de deslocamento, exigências biológicas e interações com as demais espécies. Espécies que se deslocam pouco percebem a paisagem dentro de um contexto local, enquanto espécies com grande capacidade de deslocamento ou dispersão percebem a paisagem de uma forma mais ampla.
Espécies mais generalistas¹ percebem as paisagens em um grau muito menor de detalhes que as especialistas². Sendo assim, o tamanho de um fragmento florestal é relativo, bem como sua homogeneidade e heterogeneidade, sendo estes atributos também relacionados à escala espacial
e ao recorte temporal. Ainda que diferentes organismos possuam altas taxas de dispersão, um organismo pode ser considerado mais sensível a perturbações da paisagem devido à especialidade de seu nicho ecológico.
Um exemplo disto são as mariposas da família Sphingidae, cuja probóscide é proporcional ao tamanho da flor da orquídea do gênero Angraecum, o que restringe seu hábitat a um fragmento de paisagem pequeno. A configuração espacial de uma paisagem, indicada pelo tamanho das manchas³ da paisagem e por quanto esta mancha está isolada ou em conectividade com as demais, é um fator essencial que determina inúmeros processos ecológicos, como por exemplo riscos de extinção, possibilidades de migração ou colonização ou recolonização.
Sendo assim, é possível verificar que fragmentos antropizados atingem diretamente os organismos. Um exemplo de interferência em processos ecológicos envolvendo fragmentos antropizados são os lagartos tropicais que podem percorrer grandes distâncias e adentrar plantações, mas correm alto risco de atropelamento em estradas.
É de extrema importância que a paisagem seja a mais natural possível, uma vez que associada a ela podemos encontrar diversos organismos exercendo seu papel ecológico e garantindo a manutenção do ecossistema. Ao causarmos distúrbios na paisagem, estamos afetando todo um sistema que estava em equilíbrio, o que resulta no desaparecimento de diversas espécies quando retiramos seus locais de abrigo e alimentação ou eliminamos seu alimento, por exemplo.
Tais distúrbios são comumente voltados à estética visual, por exemplo, a manutenção de jardins através da roçada da grama, a abertura de clareiras, o uso de herbicidas, retirada de cupinzeiros e formigueiros, o corte de árvores e até mesmo a poda. É importante ressaltar que o funcionamento do ecossistema depende de toda uma maquinaria de processos envolvendo paisagens e organismos e quanto mais homogênea ou desarranjada a paisagem, menos riqueza⁴ e abundância⁵ ela apresenta, tendo em vista que a estrutura da paisagem relaciona a distribuição de elementos ecológicos (animais, plantas, biomassa⁶, nutrientes) com o tamanho, quantidade, forma e tipo das manchas.
Fragmentação
As ações antropizadas destacadas acima acarretam em um processo denominado fragmento da paisagem. Definimos fragmentação como a quebra de habitat para determinada espécie e este processo é comumente chamado de “fragmentação associada a perda de habitat”. Para determinadas espécies, até pequenos eventos no interior do recorte de paisagem pode ocasionar fragmentação de habitat, ainda que não perceptíveis dentro na perspectiva humana.
A manutenção de uma espécie em uma paisagem fragmentada é identificada como o equilíbrio entre o processo de extinção local, que está condicionado a área e qualidade do habitat, e as possibilidades de recolonização deste habitat, que está relacionado à conectividade entre os fragmentos. Ou seja, quanto mais perturbada a paisagem, maiores serão os fragmentos e menores as possibilidades de conectividades entre eles. Para uma determinada espécie, se ocorre o isolamento dos fragmentos de vegetação causados pela ação do homem, seja para a construção de um empreendimento urbano ou para a manutenção da estética do ambiente, por exemplo, aumenta-se a distância entre um fragmento e outro e consequentemente sua mobilidade e dispersão é diminuída. Alguns fragmentos de habitats são tão pequenos que não são capazes de sustentar algumas populações locais. Neste caso, as espécies, ao estarem incapazes de cruzar pela matriz⁷, ficarão restritas a fragmentos muito pequenos e a viabilidade da população estará em risco.
Glossário
1. Que não necessitam de condições específicas para sobreviverem.
2. Que necessitam de condições específicas e ideais para sobreviverem.
3. Área relativamente homogênea que se difere do restante da paisagem.
4. Quantidade de espécies diferentes.
5. Quantidade de indivíduos dentro de uma única espécie.
6. Massa biológica base da produção de energia a partir da decomposição de resíduos orgânicos.
7. É a paisagem adjacente a um fragmento florestal, adequado ou não para uma determinada espécie.
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