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Abelhas
Há cerca de 20 mil espécies de abelhas descritas no mundo, mas acredita-se que este número pode ser muito maior. Cerca de 3 mil dessas espécies são parasitas de outras, botam seus ovos em outros ninhos de abelhas para que elas cuidem deles. Atualmente há cerca de 11 famílias de abelhas, que as dividem em diferentes grupos de acordo com suas características.
Um ninho de abelhas pode possuir de 100 a 100 mil abelhas, sendo uma delas a rainha, alguns zangões e o restante operárias. Em algumas espécies de colônias grandes é possível encontrar algumas princesas na organização social das abelhas. São diversos os trabalhos das abelhas: limpeza do ninho, construção e reparos, regulagem de temperatura, coleta de pólen ou néctar e produção de cera.
As abelhas vivem em torno de 50 a 55 dias, e em cada fase de sua vida possuem um trabalho já definido, seja limpeza e cuidados com a cria ou ninho, defesa do ninho ou coleta de pólen e néctar na natureza. Ao coletar pólen e néctar, as abelhas realizam a polinização¹ de flores que só assim produzirão frutos, muitos destes frutos são consumidos pelos humanos.
No Brasil, encontramos dois tipos principais de abelhas, as exóticas² que possuem ferrão e as nativas que não possuem ferrão. As nativas³ compreendem mais de 300 espécies e constroem seus ninhos escondidos em ocos de árvore, buracos em barrancos ou no chão, ou expostos em galhos. Elas podem utilizar a própria cera e resina produzidas misturadas com barro para a construção, e o formato do ninho e de seu orifício de entrada podem variar com cada espécie. O ninho pode ser dividido em câmaras de cerume (mistura de cera com resina) com finalidades específicas, como área da cria ou potes de armazenamento para cera, resina e cerume. Já a colméia das exóticas, possuem os favos em formato hexagonal e é onde as abelhas depositam o mel e pólen.
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São dois principais tipos de abelhas utilizadas para a produção de mel ou outros produtos derivados, a abelha europeia (Apis mellifera) ou as abelhas-sem-ferrão nativas. As mais frequentemente utilizadas para produção são seis espécies: uruçu (Melipona scutellaris - imagem da esquerda), a tiúba (Melipona fasciculata), a jandaíra (Melipona subnitida), a uruçu-cinzenta (Melipona manaosensis), a mandaçaia (Melipona quadrifasciata anthidioides - imagem da direita) e a jataí (Tetragonisca angustula).
A abelha europeia possui uma taxa de produção de mel maior que as abelhas-sem-ferrão nativas, uma colônia de abelha europeia pode produzir até 15kg de mel por ano, enquanto que as colônias nativas variam de 1kg a 10kg por ano. O sabor do mel também é diferente, sendo o mel das nativas mais ácido que o da europeia.
O mel é uma substância produzida pelas abelhas a partir do pólen das flores e é conhecido por possuir propriedades antimicrobianas.
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Estudos demonstraram que ele possui ação inibitória de bactérias e fungos com potencial de ser utilizado como uma alternativa mais natural aos antibióticos industrializados que compramos nas farmácias.
A cera é produzida por glândulas presentes no abdômen que secretam a cera líquida, mas que ao entrar em contato com o ar se solidificam e formam placas brancas. A cor original da cera produzida pelas abelhas costuma ser branca, mas pode variar com a presença de pólen ou própolis. Essa cera é misturada com saliva para que seja modelável no formato dos favos. Para que 1kg de cera seja produzido é necessário que as abelhas consumam de 6 a 7 kg de mel.
Produzida pelas abelhas quando possuem 12 a 18 dias de vida, a cera pode ser utilizada na construção da colméia e suas estruturas internas, no entanto o homem também a utiliza em diversas ocasiões e desde muito tempo. No antigo Egito a cera era utilizada para mumificar pessoas após a morte, esculpir esculturas ou em cerimônias religiosas e atualmente pode ser utilizada na indústria farmacêutica, cosmética e odontológica.
Desde 2011 a China lidera a produção de mel mundial com mais de 445 mil toneladas por ano, já o Brasil possui uma produção anual de 40 mil toneladas. A espécie de abelha utilizada no Brasil é muito resistente a doenças, fazendo com que o mel produzido seja livre de agrotóxicos e seja considerado orgânico.
As abelhas sem ferrão pertencem à tribo Meliponina e estão divididas em 52 gêneros e mais de 300 espécies, são bem distribuídas nas áreas tropicais, como Mata Atlântica, Caatinga e Pantanal.
As abelhas sem ferrão possuem diversos inimigos naturais que podem destruir suas colônias: formigas, moscas, aranhas, lagartixas, aves, pequenos mamíferos e sapos. Um dos principais destruidores de colméias são os forídeos, um tipo de mosca que é atraída pelo odor do pólen fermentado presente nas colméias. Esta mosca realiza a postura de seus ovos nos potes de pólen, favos de cria e na lixeira. As larvas dos forídeos se alimentam do mel e do pólen acumulados pelas abelhas, reduzindo drasticamente seu estoque de alimento. Uma outra espécie perigosa para a sobrevivência da colméia é a mosca soldado-negro (Hermetia illucens), que pode depositar seus ovos em frestas na madeira do ninho e quando eclodidos, as larvas ao se alimentarem de matéria orgânica alteram a umidade da colméia produzindo uma espécie de lama em seu interior.
Existem espécies de abelhas solitárias que são consideradas indicadoras ambientais devido à sua sobrevivência estar ligada diretamente com a diversidade ambiental. Estes insetos solitários são assim classificados pelo fato de não haver cooperação nas tarefas e pelas abelhas fêmeas botarem os ovos nas células construídas por elas mesmas e não terem contato entre as gerações.
Cerca de 80% das abelhas são solitárias e não conseguem voar longas distâncias, com um alcance de até 600 metros. Dessa forma, elas precisam encontrar fontes de alimento e um local seguro para formar sua colméia dentro desta área. Este é um dos motivos pelo qual monoculturasâ´ são prejudiciais para as abelhas, pois não encontram uma diversidade de vegetação para que consigam sobreviver e manter uma colônia forte.
As abelhas que vivem em grupos podem ser classificadas em diferentes tipos de sociedade: eu-sociais, subsociais ou para-sociais. As colônias eu-sociais são formadas por duas gerações de abelhas, a fêmea fecundada que apenas bota os ovos, e as outras fêmeas não fecundadas responsáveis pelas outras atividades que mantém a colônia viva. As subsociais são semelhantes às solitárias, diferenciando apenas no processo de abastecimento das células. Já as para-sociais são colônias pequenas que prezam mais pela defesa da mesma e também possuem apenas uma geração.
As abelhas possuem diversas formas de se comunicar, cada espécie possui um método diferente, seja ele contato físico, através de sons, pelo olfato ou mesmo visual.
A maioria das abelhas, ao retornarem para a colméia vinda de alguma boa fonte de alimento, avisam as outras abelhas da localização desta fonte por meio do odor ou sabor do alimento coletado. Ao espalhar o odor ou então dividir o pólen com as outras, estas abelhas saem a procura desta fonte com as características já experimentadas. Essa saída pode ser estimulada por meio de sons produzidos com as asas, com contato físico entre elas ou até mesmo uma guiar as outras para o local exato.
Um dos mecanismos mais complexos de comunicação é apresentado em espécies como mandaguari, caga-fogo e mombuca. Elas possuem uma glândula mandibular que produz uma secreção utilizada para fazer uma trilha de odor na vegetação para que outras abelhas se guiem por ela para encontrar a fonte.
As abelhas europeias se comunicam a partir de uma dança. As abelhas que encontraram uma boa fonte de alimento dentro de 25m de distância da colméia realizam uma dança circular e encostam em suas colegas para compartilhar gotas de néctar para que possam identificar a fonte mais facilmente. Quando a fonte está mais distante (mais de 100m) os passos da dança mudam e com uma certa angulação destes, em relação ao sol e à colméia, as outras abelhas conseguem identificar a origem da fonte de alimento almejada.
Os agrotóxicos, muito utilizados nas plantações de todo o mundo, possuem um importante papel na mortalidade das abelhas. Quando são utilizados inseticidas para reduzir o aparecimento de pragas nas grandes plantações, outros insetos que seriam benéficos a ela, como as abelhas, também sofrem com seus efeitos. O principal grupo de agrotóxicos utilizados são os neocotinoides.
As abelhas são responsáveis por polinizar aproximadamente 75% de todas as plantas com flores do mundo, e consequentemente sendo responsáveis pela geração dos frutos que consumimos.
Ao utilizar os agrotóxicos é gerado um ciclo no qual as abelhas morrem, com isso a polinização e a produção de frutos diminui, então o produtor desmata mais para aumentar sua área de plantio para compensar a falta de frutos, destruindo assim o habitat das abelhas, as quais não sobreviverão para polinizar suas plantas e o produtor visando aumentar sua produção continua a aplicar agrotóxicos para tentar compensar a baixa produção, reduzindo ainda mais a quantidade de abelhas.
Atualmente, estima-se que no Brasil dois bilhões de abelhas morram por ano devido aos agrotóxicos e seu uso indiscriminado só cresce. Muitos dos produtos liberados para uso no Brasil são proibidos na Europa e EUA, pois sabem dos problemas causados por eles, tanto para a saúde humana como para a biodiversidade.
A polinização pode ser definida como a transferência de células masculinas (pólen) de uma flor para o receptor feminino de outra flor, este processo é responsável pela formação de frutos e sementes. Sem a polinização as florestas nativas não conseguiriam se manter vivas nem seriam capazes de abrigar milhares de espécies.
Nas flores, as abelhas procuram por pólen e néctar, que são seu principal alimento. O pólen é rico em proteínas, lipídios e vitaminas enquanto que o néctar é rico em carboidratos e energia, sendo o néctar a matéria prima do mel.
As abelhas são os principais polinizadores de flores. Na Mata Atlântica elas são responsáveis por polinizar aproximadamente 90% das espécies, no Pantanal e na Caatinga representam 30% dos polinizadores. Cerca de 1/3 de toda a alimentação humana depende, de alguma forma, da polinização das abelhas.
As abelhas sem ferrão são de grande importância econômica devido à sua habilidade em polinizar flores que originarão frutos muito comercializados, como morango, tomate, berinjela, açaí e pimentão.
Glossário
1. Transporte do grão de pólen de uma flor a outra.
2. Espécie que vive fora da sua área de distribuição natural.
3. Espécie que vive dentro da sua área de distribuição natural.
4. Produção ou cultura de apenas um único tipo de produto agrícola.
Para mais informações:
ARAGAKY, C. Morte de meio bilhão de abelhas é consequência de agrotóxicos. Jornal da USP. 2019.
BOBANY, D. de M., et al. Atividade antimicrobiana do mel de abelhas jataí (Tetragonisca angustula) em cultivo de microorganismos do conduto auditivo de canídeos domésticos (Canis familiaris). Ciência Animal Brasileira. Goiânia. v. 11, n. 2, p. 441-446. 2010.
EMBRAPA. Criação de abelhas-sem-ferrão. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Embrapa meio-norte.
LISBOA, L. C. de O. Feromônios, comunicação e forrageamento. Apiário Central Universidade Federal de Viçosa. 2014. Disponível em: http://www.apiario.ufv.br/feromonio.pdf
LISBOA, L. C. de O. ; MELO, M. de A.; Comportamento social. Apiário Central Universidade Federal de Viçosa. 2014. Disponível em: http://www.apiario.ufv.br/socialidade.pdf
MONTAGNANA, Paula Carolina; GARÓFALO, Carlos Alberto; RIBEIRO, Milton Cezar. Efeitos-multi escala da quantidade de habitat e heterogeneidade da paisagem sobre comunidade de abelhas. 2018.Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2018.
NUNES, L. A. et al. Produção de Cera. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Universidade de São Paulo. n 52. Piracicaba, 2012.
PERUQUETTI, R. C.; Origem das Abelhas. Apiário Central Universidade Federal de Viçosa. 2014. Disponível em: http://www.apiario.ufv.br/origemdasabelhas.pdf
SEBRAE. Boletim setorial do agronegócio: Apicultura. Recife, maio de 2011
VILLAS-BÔAS, J. Manual Tecnológico: Mel de Abelhas sem Ferrão. Brasília – DF. Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). Brasil, 2012