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Espécies exóticas e invasoras

Este é um pé de café! Pertence ao gênero Coffea, o qual possui mais de 100 espécies diferentes. 

 

O que são?

 

É denominada espécie exótica qualquer espécie que ocorre em uma área fora de seu limite natural, seja por processos naturais (dispersão acidental) ou processos não-naturais (dispersão intencional), provocados por atividades humanas. Elas podem causar impactos ambientais, gerando ameaça aos ecossistemas e habitats de espécies nativas, podendo, além disso, induzir prejuízos à economia, e afetar negativamente a saúde humana. Quando isso ocorre, uma espécie exótica pode ser considerada, também, espécie invasora.


Os processos intencionais começaram por volta do século XVI, quando o homem começou a realizar viagens comerciais entre os continentes com a intenção de colonizar novas terras, trazendo e levando consigo espécies de plantas e animais e as introduzindo em diferentes locais. Antigamente, espécies novas chegavam de maneira eventual, decorrentes de processos naturais de migração e expansão; e a colonização de novas terras era intercalada o suficiente para que as espécies nativas pudessem evoluir e se adaptar. Com o avanço da tecnologia em transportes e o aumento do comércio global, a colonização foi impulsionada exponencialmente junto ao abastecimento de espécies exóticas, colocando em contato espécies que antes estavam isoladas e separadas por barreiras naturais.


A partir disso, essas espécies, por não terem inimigos naturais, podem desenvolver maior aptidão¹ em relação às espécies nativas, o que lhes garante um sucesso reprodutivo e de sobrevivência, tanto pela competição por território quanto por alimento, ocupando nichos² antes pertencentes a outras espécies. O processo de invasão biológica acontece através de quatro fases: a chegada (ou introdução) da espécie, seu estabelecimento (ou fixação), sua expansão e o seu equilíbrio na comunidade. Normalmente, esse equilíbrio ocorre com uma grande dominância da espécie invasora, no qual a condição atual do ambiente é ecologicamente inferior à original, devido à perda da biodiversidade em termo de espécies, parcial ou total (extinção) e de processos ecológicos. Este evento acaba causando um desequilíbrio no ecossistema em questão, provocando empobrecimento e homogeneização do mesmo. Atualmente, a redução e a degradação de habitats é a maior ameaça à conservação, sendo a homogeneização³ a segunda maior causa desse evento.

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Exemplos

 

No Brasil, o mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei), vindo da Ásia, é uma espécie responsável pelo desaparecimento de outros animais e danos ambientais. Ela é introduzida em diversos ambientes por meio da água de lastro de navios, e causa diversos problemas, como por exemplo o entupimento de tubulações de usinas hidrelétricas e a ameaça aos ecossistemas aquáticos.
No arquipélago de Abrolhos (mapa), as espécies de corais Mussimilia brazilienses e Mussimilia hispida são afetadas por uma doença causada pelas bactérias do gênero Vibrio⁴, deixando esses organismos esbranquiçados. Esse fato pode ser considerado um impacto causado pela transmissão dessas bactérias através do homem, devido à contaminação orgânica e fecal que afeta os corais da região.

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Na década de 1980, o caramujo africano Achatina fulica foi introduzido no Brasil para substituir o escargot Helix aspersa para o consumo humano. O problema é que, atualmente, esse molusco trazido por criadores pode ser encontrado na maioria dos biomas brasileiros, sendo hospedeiro intermediário⁵ do nematódeo Angiostrongylus cantonensis, patógeno⁶ da angiostrongilíase meningoencefálica⁷ no homem. 

 

O sagui-de-tufo-branco (Callithrix jacchus) é nativo do Nordeste do Brasil e possui grande ocorrência no Sudeste, cujo ambiente se tornou bastante propício para seu desenvolvimento, sendo uma espécie que ocupa o topo das árvores e impede que aves construam seus ninhos, além de disputarem com outros primatas nativos, ocorrendo, inclusive, hibridização entre eles. Também são bastante frequentes em torno de residências, recebendo alimento diretamente de humanos ou até mesmo os roubando, sendo considerado um animal de caráter sinantrópico⁸ .

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O javali (Sus scrofa scrofa), originalmente da Europa, é um dos exemplos mais icônicos de introdução de espécies e hoje ele é considerado uma das cem piores espécies invasoras no mundo. Essa espécie possui o hábito de revolver-se no solo lamoso a procura de alimentos, causando perda de nutrientes, lixiviação⁹ e redução da diversidade de herbáceas. Devido a esse panorama de invasão e sua repercussão bastante negativa, sua caça foi legalizada em 2013. 

A relação entre animais silvestres e o homem causou o surgimento de novas doenças. Um exemplo foi o surto da febre maculosa, zoonose¹⁰ causada por bactérias do gênero Rickettsia e transmitida por carrapatos do gênero Amblyomma, os quais são ectoparasitos¹¹ de vertebrados e foram levados por elas para as cidades através dos rios. Também podemos citar o surto de hantavirose¹², que ocorreu em vários locais da América Latina devido ao contato do homem com roedores silvestres do gênero Akodon e Necromys. Os casos de hantaviroses aumentaram por conta das ações antropogênicas¹³ de apropriação de espaços naturais. Estes espaços vêm sofrendo uma enorme modificação, chegando inclusive a se fragmentarem, influenciando a relação entre animais silvestres, animais domésticos e o homem, possibilitando o aparecimento de zoonoses.

 

Um outro exemplar relacionado à saúde pública e bastante discutido é o mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue no Brasil. O mosquito tem origem africana, vindo provavelmente da região da Etiópia durante o tráfico de escravos. É considerado um mosquito domiciliar e, além de outras enfermidades, transmite a febre amarela urbana. Em 1986, foi introduzido no Brasil uma outra espécie, denominada Aedes albopictus, que pode ser vetor secundário da dengue em áreas rurais. 
 

Não há apenas espécies de animais consideradas invasoras, como também diversos exemplos de flora na mesma categoria. A amora preta (Rubus niveus), é nativa da América do Norte e da Europa e foi introduzida no Brasil para a produção de doces, vindo desde então invadindo áreas florestais e abertas, causando ameaças à população nativa. 

O pinheiro (Pinus elliotti; Pinus taeda) é muito usado no reflorestamento e na produção de papel. Nestas monoculturas, a riqueza e abundância de outras espécies é muito baixa, e seu intenso manejo e substâncias químicas provenientes da decomposição de suas folhas alteram o ambiente e impedem que a floresta nativa se recupere. Esse processo é denominado “deserto verde”, que além da redução da biodiversidade, causa desertificação¹⁴ das regiões plantadas devido ao rápido crescimento dessa espécie e prejuízo aos solos.

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A braquiária (Poaceae), originária da África, é amplamente empregada na formação de pastagens devido à sua resistência ao pisoteio do gado e apresentam cobertura contínua inclusive em terrenos de baixa fertilidade. As braquiárias podem intensificar o regime de incêndios devido ao seu acúmulo de biomassa¹⁵ e de serrapilheira¹⁶, cuja inflamabilidade é bastante alta. Além disso, a braquiária compete com espécies nativas durante a regeneração, retardando o processo de sucessão ecológica¹⁷.

Outras espécies da família das poáceas também são fortes colonizadoras de áreas degradadas e antropizadas¹⁸. Uma das explicações é a vantagem evolutiva associada à uma característica fisiológica, a fotossíntese C4¹⁹, fator determinante para uma colonização eficaz em locais com intensa radiação solar, solo pouco fértil e desprovido de matéria orgânica.

 

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Controle

 

Devido ao seu difícil combate e controle, as espécies invasoras são consideradas um dos problemas ambientais mais desafiadores. Elas tendem a se tornar dominantes, trazendo inúmeros impactos negativos que se agravam na medida em que aumentam sua aptidão. 


O controle de espécies invasoras é uma atividade de alto custo e com pouca garantia de resultados, além de possuir consequências negativas imprevisíveis. Por esta razão, as estratégias para lidar com a problemática de invasões ocasionadas por espécies exóticas nos mais variados contextos estão associadas primeiramente à prevenção, à detecção precoce e resposta rápida, seguidas por estratégias de erradicação e controle.
 

A prevenção é a primeira etapa na hierarquia do manejo contra invasões biológicas, sendo esta medida a mais eficiente e a que apresenta o melhor custo-benefício. Esta alternativa deve focar no impedimento ou pelo menos na redução do número de introduções, sejam elas intencionais ou acidentais.
 

Na hipótese das medidas relacionadas à prevenção não serem adequadamente sucedidas, ações de detecção precoce e resposta rápida são essenciais na identificação de um possível foco de invasão, bem como sua erradicação imediata. Caso as espécies exóticas introduzidas se estabeleçam, é necessário utilizar métodos de erradicação e controle, cujo programa abrange medidas para conter a distribuição da espécie invasora, reduzir sua abundância, sua densidade e mitigar seus impactos. 
 

Quaisquer que sejam os programas de manejo de espécies exóticas invasoras, é imprescindível estabelecer que o principal e maior propósito será a conservação e a restauração de ecossistemas e processos ecológicos, habitats e populações nativas. O controle e a erradicação das invasoras não deve ser o objetivo central, uma vez que o manejo destas espécies é somente um instrumento de conservação ambiental.
 

Vale ressaltar que a prevenção de invasões biológicas não cabe apenas a ações governamentais. Uma vez que a grande responsável pela introdução dessas espécie em novos ecossistemas é a ação humana, é possível evitar novos focos de espécies invasoras seguindo algumas medidas de controle, tais como: evitar cultivos de plantas exóticas em jardins, pois suas sementes podem ser disseminadas por aves, expandindo seu território de invasão; não abandonar animais de estimação na natureza e não jogar peixes de criação em córregos; obter informações a respeito da espécie a qual se deseja criar, principalmente seu manejo adequado e a construção de criadouros que impeçam a fuga desses animais.

Glossário

 

1. Capacidade de um genótipo de deixar descendentes.

2. Porção restrita de um habitat onde há condições necessárias para a existência de um organismo ou espécie.

3. Aumento da similaridade entre comunidades.

4. Bactéria com formato curvo que possui mobilidade.

5. Aquele que aloja o parasita em sua fase de vida larvária ou de reprodução assexuada.

6. Causador de doença.

7. Infecção com larvas de vermes do gênero Angiostrongylus, ocorrendo meningites no hospedeiro.

8. Organismos selvagens que se adaptam a viver com o homem.

9. Dissolução e remoção dos constituintes de rochas e de solos causado pelo escoamento de águas superficiais.

10. Doença que pode ser transmitida para o ser humano através de um animal.

11. Parasita que se instala fora do corpo do hospedeiro, como os piolhos.

12. Enfermidade aguda provocada por diferentes sorotipos de Hantavirus eliminados nas fezes, urina e saliva de roedores silvestres.

13. Derivada de atividades humanas.

14. Processo de modificação ambiental ou climática que leva à formação de uma paisagem árida ou de um deserto propriamente dito.

15. Massa biológica base da produção de energia a partir da decomposição de resíduos orgânicos.

16. Camada formada pela deposição dos restos de plantas e acúmulo de material orgânico vivo em diferentes estágios de decomposição que reveste superficialmente o solo.

17. Sequência de alterações graduais e progressivas na comunidade de um ecossistema, as quais podem ocorrer após uma pertubação ou após o surgimento de um novo habitat.

18. Conversão de espaços abertos, paisagens e ambientes naturais pela ação humana.

19. É um dos possíveis mecanismos bioquímicos da fotossíntese, responsável pela fixação do carbono.

 

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